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Fotografia de Torradaemeiadeleite. Óbidos.
Todos os dias escrevo a minha incompletude. Nem sempre no papel, raramente com tinta permanente.
Nesta escrita, é a mão da angústia que reincide, e também esta presença, noto uma presença: reaparenta-me algo que nunca teve corpo e vem da minha maior distância. Ela mesma, porém, me entregará ao que nos tempos se denomina futuro, sei-o. Pensada e sentida. Morrerá também, mas só depois de mim.
Nessa ausente presença de corpo escrevo, com a angústia a pulsar, e por elas participo de tudo que é desde o momento em que o nada foi pronunciado. Arranco-me frases que perpassam de umas essências para outras, e a minha de permeio, desnorteada, sem lugar fixo, a repetir o absurdo para que o absurdo seja jamais saciado.
Queria eu lançar teias a todas elas, para prosseguir mais firme do que sobre este vazio que estonteia. E convenço-me de que posso fazê-lo, e prosseguir escrevendo, de mim, em mim, para lá de mim, até mais perto desse ponto onde o tempo não tem morada, até mais perto desse ponto tão somente intuído. Chegarei aí onde a incompletude faz da angústia um ser criador, e criando sinto que religo e, criadora, pertenço a mim e ao mundo.
Imagino, e imaginando apago os limites do que eu vejo. A incompletude, sim, aumentará e é imperativo que ela nunca se resolva.